
Na oportunidade os docentes preocuparam-se em conhecer os materiais disponíveis no Kit, assim como conhecer os valores civilizatórios afro-brasileiros e sua aplicação em suas disciplinas.
Para melhor compreensão desses valores disponibilizaremos abaixo a explicação de cada eixo:
Valores civilizatórios afrobrasileiros são aspectos
da cosmovisão africana trazidos aos Brasil pelos escravos e que aqui se
reconstituíram, compondo a cultura afrobrasileira. São valores que nos
constituem enquanto sujeitos e estão presentes em nosso modo de vida, inclusive
na capoeira.
Todos nós conhecemos o prazer que advém do ato de
sentar em roda com amigos para contar histórias, fazer música, brincar com
jogos ou manifestar a religiosidade. Os próprios valores civilizatórios são
bons exemplo de circularidade. A vida é cíclica. Podemos estar muito bem agora
e numa posição ruim depois até que voltemos a um estado satisfatório. A
humanidade inteira permanece unida por este sentimento circular.
“O terreiro tem o papel importantíssimo de resgatar
a Mãe África, mesmo que através de uma nostalgia, de um lamento. E é esse
território representado pelo círculo que vai reaparecer em várias atividades,
de cunho religioso e também no espaço lúdico. Essa mesma roda está presente na
capoeira, no jongo, no tambor de crioula, na gira da umbanda e no samba”.
Religiosidade
Para a nação afro-descendente, religiosidade é mais
do que religião: é um exercício permanente de respeito à vida e doação ao próximo.
A propósito, em tempos de tanta violência gratuita, vale pontuar que a vida é
um dom divino, de caráter transcendental, e deve ser usada para cuidar de si e
do outro.
“A cada dia acontece uma lição de vida. Aprende-se
de tudo, a comunicação com os mais velhos, com os mais novos, o trabalho em
grupo fazendo-se o que gosta ou que não gosta; e, sobretudo, aprende-se o gosto
pela vida, numa estreita relação com o Orixá” (Mãe Stella)
Corporeidade
“Aprendemos que as danças circulam e que o corpo
informa sobre a vida de cada dançarino” (Antonio Nóbrega)
Musicalidade
Famosa no mundo inteiro pela sua qualidade
inconteste, a música brasileira tem os dois pés bem fincados no Continente
Negro. Quem resiste aos encantos de uma batucada? A musicalidade, a dimensão do
corpo que dança e vibra em resposta aos sons só reafirma a consciência de que o
corpo humano também é melódico e potencializa a musicalidade como um valor.
“O som é o ponto de partida dos primeiros
habitantes do globo terrestre rumo à formação dos primeiros agrupamentos
humanos que, no curso da evolução, irão constituir a nossa civilização. A
importância da música, da qual o som é a matéria-prima, é superior à descoberta
do fogo, ou à invenção da roda ou da imprensa” (Charles Murray)
Para despertar o sentimento de afro-brasilidade e,
sobretudo, de orgulho ao exibi-la, é necessário mexer no eixo do racismo e da
memória: o racismo como algo a ser enfrentado e a memória para que a presença
africana que habita em nós possa emergir livremente.
Ancestralidade
Quando se pensa em ancestralidade, faz-se uma
imediata ponte com a história e a memória. Convém não esquecer o passado. Não
há fórmulas complexas para vivenciar o que é, de fato, a ancestralidade. Quer
provar? Então saia em busca do relato dos mais velhos, que trazem o rico imaginário
afro-brasileiro.
“A memória compõe nossa identidade. É por
intermédio da memória que construímos nossa história. Ao construir a memória,
construímos lembrança, que para existir precisa do outro e necessita ser
compartilhada. Assim também é a obra de arte” (Franklin Esparth Pedroso)
Cooperativismo
Falar sobre cultura negra requer usar a palavra
‘coletivo’. Pensar em africanidades é pensar em comunidade, em diversidade, em
grupo. Imaginem o que teria acontecido com a população negra num sistema
escravocrata se houvessem desprezado o princípio da parceria, do diálogo, da
cooperação? E ainda nos dias que corre, nesta sociedade racista excludente?
“Durante séculos os povos da África Central tinham
lidado com a diversidade étnica, desenvolvido tradições religiosas comuns e
compartilhado formas culturais. Essas habilidades eles as transmitiram para o
Brasil, onde utilizaram indiscutivelmente técnicas similares para lidar com a
diversidade cultural” (Karasch)
Oralidade
Herança direta da cultura africana, a expressão
oral é uma força comunicativa a ser potencializada. Jamais como negação da
escrita, mas como afirmação de independência. A oralidade está associada ao
corpo porque é através da voz, da memória e da música, por exemplo, que nos
comunicamos e nos identificamos com o próximo.
“Griots são contadores de histórias fundamentais
para a permanência da humanidade: são como um acervo vivo de um povo. Carregam
nos seus corpos lendas, feitos, canções e lições de vida de uma população,
envoltos numa magia própria, específica dos que encantam com o corpo e com sua
oralidade” (Gregório Filho)
Energia
Vital
O princípio do axé é a vontade de viver e aprender
com vigor, alegria e brilho no olho, acreditando na força do presente. Em nada
se assemelha a normas, burocracias, métodos rígidos e imutáveis. Pelo
contrário. Tudo é uma possibilidade para quem é guiado pelo axé.
“Perdi os dedos, mas não a força e a vontade de
esculpir. Aprendi a usar os joelhos como quem usa os pés. Amarrei os
instrumentos às mãos para continuar a trabalhar. Afinal, a criação nasce na
cabeça, não na ponta dos dedos” (Heróis de Todo Mundo, programa sobre
Aleijadinho)
Ludicidade
Entre suas variadas utilidades, os jogos sempre
viabilizaram o aprendizado. Também serviram para transmitir as conquistas da
sociedade em diversos campos do conhecimento. Quando os membros mais velhos de
um grupo revelam aos jovens como funciona um determinado jogo de tabuleiro, por
exemplo, eles transmitem uma série de conhecimentos que fazem parte do
patrimônio cultural daquele grupo.
“Antigamente, o jogo era associado a ritos mágicos
e sagrados. Dependendo do lugar, era reservado apenas para os homens, ou para
os homens mais velhos, ou, ainda, era exclusivo dos sacerdotes” (Os Melhores
Jogos do Mundo)
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